@article{Gomes_Valadão_2019, title={Editorial}, volume={18}, url={https://periodicos.ufv.br/RCH/article/view/9020}, abstractNote={<p>Temos imensa satisfação em apresentar este número da <em>Revista de Ciências Humanas</em>, em que a Língua Brasileira de Sinais – Libras, é a protagonista das discussões decorrentes do II Encontro de Tradutores, Intérpretes e Guia-intérpretes de Libras e Língua Portuguesa de Minas Gerais, realizado a partir de uma parceria entre a Unidade Interdisciplinar de Políticas Inclusivas, da Pró-Reitoria de Ensino, e o Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa – PPG Letras UFV.</p><p>A revista, editada desde 2001, apresenta, pela primeira vez em sua história, um dossiê dedicado exclusivamente à Libras. Essa ação está em consonância com a representatividade e contorno que a área tem tomado, sobretudo por reconhecer que as atividades de tradução, interpretação e guia-interpretação se moldam em um rico e intenso trânsito linguístico, discursivo e cultural.</p><p>Em cerca de uma década de inserção acadêmica da Libras, considerando que a formação universitária no âmbito dos cursos de Letras-Libras iniciou-se a partir do ano de 2008, as publicações de pesquisas dessa língua no campo dos Estudos Linguísticos, dos Estudos Surdos, dos Estudos Culturais e dos Estudos da Tradução e da Interpretação ampliaram-se em diferentes programas de pós-graduação <em>stricto sensu</em>. Nesse sentido, este volume, apoiado pelo PPG Letras UFV, surge como mais uma contribuição ao contexto dos Estudos da Tradução e da Interpretação do par linguístico Libras-Língua Portuguesa, abarcando trabalhos de cunho teórico, prático, aplicado e formativo, explorando, principalmente, abordagens relacionadas à tradução de poesias e à interpretação educacional. Os artigos que compõem o dossiê são provenientes de renomadas instituições de Ensino, tais como a Universidade Federal da Bahia – UFBA, a Universidade Federal de Goiás – UFG, a Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, a Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, a Universidade Federal de Uberlândia – UFU e a Universidade Federal de Viçosa – UFV.</p><p>A edição é introduzida por Nilsa Taumaturgo de Sá de Souza, em “<em>O ato tradutório e interpretativo analisado a partir da perspectiva bakhtiniana</em>”, na qual amplia a discussão da tradução e da interpretação para um processo dialógico, em detrimento de uma perspectiva única e meramente técnica e linguística. Para isso, a autora aciona como principal aporte teórico os dizeres de Mikhail Bakhtin e Umberto Eco, atrelando-os às respostas de cinco profissionais que atuam com línguas de sinais, produzidas a partir de um questionário. As considerações efetuadas convergem para a concepção de que em qualquer processo interativo não há sujeito passivo e, por isso, os tradutores, intérpretes e guia-intérpretes seriam co-autores dos discursos proferidos.</p><p>Em <em>“Tradução comentada do poema em língua brasileira de sinais “Amor à primeira vista”</em>, Marília Duarte da Silva e Neiva de Aquino Albres apresentam as estratégias utilizadas para traduzir a poesia “Amor à primeira vista”, em Libras, para a Língua Portuguesa escrita. Durante esse processo, as autoras apontam para a necessidade de buscar uma poesia esteticamente compreensível para o público-alvo, admitindo a construção de sentidos empregada pelo tradutor. Mediante isso, optaram por um produto estruturado em rimas emparelhadas, preservando o gênero textual poesia, uma vez que o texto fonte, em Libras, possui assimetria das mãos, expressões corporais e faciais e a repetição de sinais.</p><p>No artigo intitulado “<em>Um conto em língua de sinais brasileira</em>”, Helen Cristine Alves Rocha emprega a intermidialidade, que contempla a interação e a união de diversas representações visuais e escritas, como eixo norteador da sua discussão. Assim, a autora analisa a relação entre a obra impressa “Cinderela Surda” em Língua Portuguesa escrita e em <em>Sign Writing</em> e um vídeo em que uma intérprete sinaliza a história em Libras. Pontua ainda a recepção que o público surdo tem das obras, sendo uma modalidade escrita e outra em modalidade oral/sinalizada.</p><p>Natielly de Jesus Santos, em <em>“O Slam do Corpo e a Representação da Poesia Surda”</em>, exibe o primeiro <em>Slam</em> envolvendo língua de sinais no Brasil e se compromete a demonstrar, por meio da poesia surda, uma das principais manifestações culturais desse povo, reflexões de resistência sociopolítica acerca da surdez e da relação entre as pessoas surdas e ouvintes.</p><p>Em “<em>O Currículo do Docente e a Formação de Tradutores Intérpretes de Libras – Português Na Região Sul do Brasil”</em>, Lívia Alves Duarte, Renata Cristina Vilaça-Cruz e Juliana Guimarães Faria<em> </em>desenvolvem uma análise do perfil profissional de docentes dos cursos de<em> </em>bacharelado de tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais-Língua Portuguesa da região sul<em> </em>do país. Para isso, elas acessaram as informações disponibilizadas pelos docentes na Plataforma Lattes.<em> </em>Os dados revelam que os docentes têm formação inicial em diferentes cursos de licenciatura e bacharelado, e predominância de pós-graduação na área de Letras, Linguística e Artes, bem<em> </em>como formações complementares e experiência na área de Libras, principalmente no que tange à<em> </em>docência. Segundo as autoras, os docentes dos cursos não denotam em seus currículos experiência como tradutores e intérpretes Libras-Língua Portuguesa, tampouco com didática de tradução e interpretação. Elas alertam para a falta de relação entre a formação e a vivência como tradutores e<em> </em>intérpretes, e que isso pode impactar na construção dos currículos dos cursos.</p><p>Quanto ao espaço educacional e ao intérprete que atua nesse ambiente, Eduardo Andrade Gomes e William Silvino da Silva, em <em>“Disposição espacial do intérprete e tradutor de Libras–Língua Portuguesa educacional no ensino superior sob a perspectiva do estudante surdo” </em>discorrem sobre como o posicionamento espacial desse profissional em sala de aula pode potencializar e contribuir para a significação das informações aos estudantes surdos. Para tanto, os autores realizaram uma entrevista semiestruturada com um estudante surdo de uma instituição de ensino superior em busca de conhecer a sua percepção frente a configuração espacial de tal posicionamento. De acordo com o referido estudante, a proximidade física do intérprete com o professor possibilita ao surdo maior contato visual com os docentes, legitimando uma articulação mais efetiva do conteúdo com os materiais utilizados em aula.</p><p>No trabalho intitulado <em>“Análise dos processos mediacionais estabelecidos entre professor-intérprete de libras-estudante surdo em uma disciplina do curso de Engenharia”, </em>Luana Isabel Gonçalves de Lima, Maria Regina Granato Pimenta e Renata da Silva Lopes Reis abordam questões linguísticas, culturais e éticas necessárias para um processo de interpretação educacional simultâneo da Língua Portuguesa para a Libras, considerando a diversidade de conteúdos e conhecimentos específicos de uma disciplina do curso de Engenharia em uma universidade federal mineira. Para compreender esses aspectos, oriundos da atuação de um grupo de intérpretes, as autoras desenvolveram uma observação participante, utilizando diário de campo, atentando-se para a relação estabelecida entre professor, intérprete e estudante surdo. Nesse processo, elas ressaltam que para a melhor fluidez da interpretação é importante aos intérpretes o acesso prévio aos materiais das aulas, objetivando estabelecer o adequado uso de classificadores e a convenção de sinais com o estudante surdo.</p><p>Em “<em>Acessibilidade linguística para um estudante surdo na disciplina de Química Fundamental do curso de Licenciatura em Química da Universidade Federal de Viçosa”</em>, Vinícius Catão de Assis Souza e Kevin Lopes Pereira problematizam o acesso linguístico, por meio da interpretação, de um estudante surdo no curso de Licenciatura em Química em uma universidade federal, e os desafios postos para ele, para uma professora da disciplina e para duas intérpretes que acompanhavam as aulas. Para a coleta de dados, os autores analisaram dezesseis aulas, a fim de conhecer todo o processo interativo, realizando anotações de campo frente ao que observavam. Também fizeram uma entrevista semiestruturada com a professora e as intérpretes. Os resultados demonstraram que as maiores dificuldades encontradas no processo interpretativo se pautaram no desconhecimento quanto à significação de termos específicos da Química, o que pode comprometer o entendimento do estudante surdo. Ainda, destacaram a barreira comunicacional existente entre o estudante surdo, sua professora e os demais colegas ouvintes. Propensos a tentar minimizar essas questões, os autores sugerem a interação entre os pares, estudantes, e entre a professora e as intérpretes na organização e preparação das aulas.</p><p>Jomara Mendes Fernandes e Ivoni Freitas-Reis, em <em>“Opiniões de um grupo de intérpretes educacionais de Libras sobre a realidade da inclusão escolar: o que apontam como possíveis soluções para o ensino de Ciências da Natureza</em>”, discutem a educação de surdos amplamente sistematizada, atualmente, em uma política de inclusão, na qual os intérpretes educacionais estão imersos. Para isso, as autoras disponibilizaram um questionário e obtiveram retorno de 25 (vinte e cinco) profissionais, opinando a respeito da realidade inclusiva, sobretudo em relação às possíveis melhorias para o ensino das Ciências da Natureza. Os dados corroboram para uma já conhecida dificuldade existente nesse modelo, porém frisam que parcerias entre professores e intérpretes, assim como o uso de metodologias de ensino e avaliação baseadas em estratégias visuais, podem ser artefatos que respaldem e auxiliem na melhoria e sucesso da inclusão escolar.</p><p>            Para encerrar o número, Cíntia Kelly Inês Freitas e Ana Luisa Borba Gediel, em <em>“O uso do Dicionário online Bilíngue por Tradutores e Intérpretes de Libras-Língua Portuguesa-Libras no Ensino Superior: desafios e possibilidades", </em>analisam, em uma perspectiva voltada para o uso das TIC’s como recursos para acessibilidade e inclusão no ensino superior, a usabilidade do Dicionário por dois profissionais tradutores e intérpretes de Libras-Língua Portuguesa. Os resultados demonstraram, por parte desses profissionais, a viabilidade desta ferramenta de consulta e repertório lexical em relação ao acréscimo de sinais-termos de áreas científicas.</p><p>Por fim, estendemos os nossos agradecimentos a todas e todos que se propuseram a embarcar conosco nesta iniciativa. Em especial ao Centro de Ciências Humanas Letras e Artes da UFV, por abrir as portas da Revista para uma edição voltada para a temática da tradução, interpretação e guia-interpretação entre a Libras e a Língua Portuguesa como produto do evento realizado.</p><p>Não obstante, aspiramos que este número contribua para a consolidação e expansão da área de Libras, e que as discussões aqui empreendidas gerem reflexões e (novos) questionamentos aos pesquisadores, profissionais, estudantes e interessados ao tema. Ratificamos que tecer diálogos a esse respeito colabora para a ampliação e qualificação da área dos Estudos da Tradução e da Interpretação de Línguas de Sinais, além dos serviços prestados às pessoas surdas, surdocegas e ouvintes, de modo que a língua perdure pulsante e vibrante.</p><p>Nesse viés, desejamos boa leitura a todas e todos.</p><p> </p><p> </p><p align="right">Os editores</p><p align="right">Michelle Nave Valadão</p><p align="right">Eduardo Andrade Gomes</p><p> </p><p> </p>}, number={2}, journal={Revista de Ciências Humanas}, author={Gomes, Eduardo Andrade and Valadão, Michelle Nave}, year={2019}, month={out.} }