Revista Brasileira de Futebol

Editorial Rev Bras Futebol 2024; v. 17, n. 3

João Carlos Bouzas Marins — 2025-02-24

Neste ano de 2024 conseguimos saltar em termos qualitativos e quantitativos com o número 3. A nossa RBF passa a ser quadrimestral. É algo extremamente desafiador, pois necessitamos de um fluxo importante de artigos de boa qualidade e da disponibilidade de nosso corpo editorial para avaliar os artigos. Também mudamos de plataforma https://periodicos.ufv.br/rbf/ e inserimos uma série de modificações nas normas, visando cadastrar a revista no DOI. Com isso, teremos condições de almejar uma maior qualificação no Qualis CAPES para B1, além de ter condições de inserir a RBF no Scielo e Pubmed. Ao longo do ano de 2025 estaremos migrando todos os artigos anteriores disponíveis na plataforma antiga. Como editor chefe da RBF, estou estimulado a vencer novos desafios nos esperam para 2025.

Este número, conta com seis artigos originais, sendo o primeiro do grupo de pesquisa da UFMG, liderado pelo prof. Dr. Varley Teoldo Costa, em que buscou Investigar quais KPIs (Key Performance Indicator) técnicos e táticos que podem predizem a vitória ou derrota em uma partida de futebol na “La Liga”, entre as temporadas de temporadas 2012/2013 a 2019/2020 da primeira divisão. Um trabalho meticuloso que compreendeu uma análise 3.040 partidas. Os resultados irão surpreender!

O segundo trabalho, realizado corresponde a algo não habitual no futebol. Um estudo longitudinal, que avaliou alterações na percepção de bem-estar, recuperação e carga interna em atletas de futebol profissional que competiram em semanas normais e congestionadas. Compreender essas respostas é fundamental no planejamento do microciclo de uma equipe de futebol profissional. Leitura obrigatória para todos os membros da comissão técnica.

Existe uma infinidade de fatores que influenciam no desenvolvimento de talentos no futebol de base. O terceiro artigo trata de forma especial se os minutos jogados durante uma temporada por jogadores de futebol Sub-14 estão correlacionados com a idade relativa, desempenho físico, antropometria e maturidade. O trabalho foi realizado com jogadores de “elite” e os resultados indicam como essas variáveis podem influenciar nessa dinâmica de jogo.

Compreender fatores que podem facilitar o aparecimento de lesões no futebol, e conseqüentemente buscar medidas de prevenção é fundamental ao longo de uma temporada. O quarto artigo buscou avaliar a associação do desequilíbrio entre membros inferiores, utilizando medidas, o teste de salto com um membro (Single Hop Test), dinamometria, perimetria, para o tornozelo, empregando o Lunge Test, com o desfecho de lesão, em um total de 59 jogadores de futebol profissional da série A do Campeonato Catarinense, da série A de 2023. Os resultados obtidos permitem especialmente aos fisioterapeutas e médicos um parâmetro de avaliação interessante.

O Brasil será sede em 2027 da Copa do Mundo de futebol feminino. Isso implica que esse “mundo” do futebol seja apresentado também com foco na ciência, nos mais variados “olhares” do futebol. O quinto e sexto artigos deste número trazem esse olhar no futebol feminino. São investigações realizadas no Amazonas, liderado pelo professor Dr. Lucas Leonardo, bem como em pela prof ª Drª Maria Thereza Oliveira Souza no Paraná. No primeiro o foco foi investigar a dinâmica de participação dos clubes no CBFF-A1 após a implementação do Regimento de Licença de Clubes pela CONMEBOL, visando compreender como a introdução do Regimento de Licença de Clubes influenciou a composição dos clubes participantes. Já no segundo, um estudo com uma abordagem que apresenta a importância da formação de futebol em espaços sistematizados e exclusivos para meninas. Ambos os estudos são super interessantes, com resultados reflexivos sobre o futebol feminino no Brasil.

Reiteramos que sua ajuda é extremamente importante em divulgar nosso trabalho além de enviar artigos com de boa qualidade. Mais novidades virão ao longo de 2025. Espero que desfrutem dos artigos deste número.

Prof. Dr. João Carlos Bouzas Marins

Editor Chefe da Revista Brasileira de Futebol

Análise longitudinal das variáveis preditivas de vitória no Campeonato Espanhol de Futebol (La Liga)

André Luiz Braga Jacinto — 2025-02-24

Introdução: A análise de desempenho no futebol refere-se ao processo de coleta, análise e interpretação de dados, com o objetivo de identificar pontos fortes e fracos da equipe e dos adversários.

Objetivos: Investigar quais KPIs técnicos e táticos predizem a vitória ou derrota em uma partida de futebol na La Liga.

Métodos: Este estudo teve um desenho observacional retrospectivo. A amostra foi composta por 3.040 partidas das temporadas 2012/2013 a 2019/2020 da primeira divisão da La Liga. A plataforma web InStat Scout® forneceu métricas de desempenho de jogo. Foi realizada uma análise de regressão logística com nível de significância estatística adotado de ? = 0,05.

Resultados: O modelo de regressão logística identificou 17 variáveis significativas. Foram encontradas 10 variáveis com associação positiva para vitória, sendo elas: gols, pênaltis convertidos, passes, passes-chave, eficiência de contra-ataques, entrada no terço final do campo adversário, bolas recuperadas, desafios aéreos, interceptações e desafios defensivos ganhos. Por outro lado, foram encontradas sete variáveis com associação negativa: passes precisos, cruzamentos, entrada no campo adversário, posse de bola, média da duração da posse de bola, bolas perdidas no próprio campo e bolas recuperadas no campo adversário.

Conclusões: Equipes da La Liga podem aumentar as chances de vitória em uma partida ao realizar mais passes e passes-chave, produzir mais entradas no terço final do campo adversário, ser eficazes nas ações de contra-ataque, realizar interceptações, recuperar bolas perdidas e vencer duelos defensivos.

Estudo longitudinal sobre o status de bem-estar, recuperação e carga interna em atletas de futebol profissional: comparação entre semanas normais e congestionadas

Tarlyson Regioli de Angelis — 2025-02-24

Introdução: O bem-estar dos atletas afeta seu desempenho e resultados competitivos. Escalas psicométricas são empregadas para avaliar a recuperação e a fadiga, crucial em calendários apertados, em que a falta de tempo de recuperação pode intensificar fadiga e dor.

Objetivo: Avaliar alterações na percepção de bem-estar, recuperação e carga interna em atletas de futebol profissional que competiram em semanas normais e congestionadas.

Metodologia: Foram avaliados 15 atletas(20,8±3 anos), com exceção dos goleiros, de futebol profissional da categoria masculina adulta, pertencentes a uma equipe de futebol profissional que disputa a Segunda Divisão do Campeonato Paranaense.O estudo teve delineamento observacional longitudinal retrospectivo. Foram 14 semanas em duas temporadas, incluindo 19 jogos oficiais e 75 sessões de treino. Foi feita a coleta diária do Índice de Hooper, escala PSR e PSE.A normalidade dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. Para dados com distribuição normal, utilizou-se média e desvio padrão; para dados não paramétricos, mediana e intervalo interquartil. As diferenças entre semanas foram analisadas com teste t de Student ou teste U de Mann-Whitney.

Resultados: Dois jogos semanais aumentaram a percepção de bem-estar (p < 0,05). Apenas a fadiga foi significativamente (p<0,0001) superior em semanas congestionadas. Ainda, a PSE foi menor em semanas com um jogo (p < 0,001).

Correlação entre minutos jogados e idade relativa, desempenho físico, antropometria e maturidade em jogadores de futebol de elite sub-14 do Brasil

Guilherme de Freitas Fonseca — 2025-02-24

Introdução: Atletas nascidos nos primeiros meses do ano tendem a ser maioria nos elencos de futebol de base, como efeito da idade relativa. Contudo, não está claro se isso se reflete em variáveis de jogo, desempenho físico, antropometria e maturação.

Objetivo: Investigar se os minutos jogados durante uma temporada por jogadores de futebol Sub-14 estão correlacionados com a idade relativa, desempenho físico, antropometria e maturidade.

Amostra: 18 Dezoito jogadores de futebol Sub-14 de um clube de elite do Brasil.

Metodologia: Os participantes foram submetidos a testes de desempenho físico, antropométricos e maturacionais. A idade relativa foi definida como o número de dias entre o dia de nascimento e o dia de corte da categoria. Os minutos jogados por cada atleta foram registrados em todas as partidas da temporada.

Resultados: Não houve correlação significativa entre os minutos jogados e a idade relativa (r= -015; p = 0,55). Os minutos jogados na temporada estiveram significativamente correlacionados com o tempo no teste de velocidade de 30 m (r = -0,55; p = 0,02), salto vertical (r=0,70; p<0,01), estatura (r = 0,67; p<0,01), massa corporal total (r = 0,75; p<0,01), maturação predita (r = 0,62; p<0,01), índice de maturação (r = 0,62; p<0,01) e pico de velocidade de crescimento (r = -0,71; p<0,01).

Conclusão: Não foi detectado efeito da idade relativa considerando os minutos jogados. No entanto, as variáveis de desempenho físico, antropometria e maturidade parecem ser determinantes para a quantidade de minutos jogados em uma temporada por jogadores de futebol de elite Sub-14.

Associação da assimetria de membros inferiores com o desfecho de lesão em atletas de futebol profissional do campeonato catarinense temporada 2023

Ciro Renato Miranda Junior — 2025-02-24

OBJETIVO: Avaliar associação do desequilíbrio entre membros inferiores, utilizando medidas como o teste de salto com um membro (single Hop Test), dinamometria, perimetria e para avaliação do tornozelo (Lunge Test), com o desfecho de lesão.

AMOSTRA: Amostra de 59 jogadores de futebol profissional da série A de Santa Catarina (2023), com: massa corporal: 78,04±7,73 kg; estatura: 1,80±0,07 metros; idade: 26,66±4,79 anos.

METODOLOGIA: Utilizou-se uma abordagem quantitativa de pesquisa com delineamento transversal. Durante 18 semanas, foram registradas as lesões. Para avaliar o salto utilizou-se o teste single hop test, é um teste de salto unilateral para avaliar a força e confiança, teste de força isométrica, foi utilizado o dinamômetro isométrico, com uma contração de 10 segundos, o Lunge Test é confiável para análise da dorsiflexão. A perimetria mensurou os membros inferiores a 5cm, 10cm acima da patela. Os dados foram tabulados no software Microsoft Excel® (Microsoft®, Redmond, WA, USA). Os indivíduos foram categorizados em maior e menor assimetria. Para a análise estatística, utilizou-se o software SPSS Statistics® v.20.0 (IBM®, Armonk, NY, USA) e aplicou-se o teste de quiquadrado de Pearson, para verificar a associação entre o desfecho de lesão e a assimetria.

RESULTADOS: Não foram encontradas associações entre o desfecho de lesão e a assimetria para nenhum dos testes, no single hop test por exemplo para não lesão com 6% e lesão com 5% de assimetria.

CONCLUSÃO: Mesmo observando assimetria nos testes, como salto unipodal, perimetria, força isométrica e dorsiflexão, não verificamos associações entre assimetria e aumento do risco de lesões.

O impacto do regulamento de licença de clubes da CONMEBOL no campeonato brasileiro de futebol feminino (2013-2024)

Ana Karolina Silva Sena — 2025-02-24

Introdução: Este estudo analisou a origem geográfica dos clubes participantes do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino (CBFF-A1) entre 2013 e 2024, com foco no impacto da implementação do Regulamento de Licença de Clubes da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL).

Objetivos: O objetivo foi investigar a dinâmica de participação dos clubes no CBFF-A1 após a implementação do Regimento de Licença de Clubes pela CONMEBOL, visando compreender como a introdução do Regimento de Licença de Clubes influenciou a composição dos clubes participantes.

Métodos: O estudo utilizou uma análise documental, comparando os clubes antes e depois da implementação do Regimento de Licença de Clubes.

Resultados: Observou-se uma diminuição na presença de clubes das regiões Norte e Nordeste, contrastando com o aumento da participação de clubes da Região Sudeste, principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro. A 12ª edição do CBFF-A1, realizada em 2024, marcou a primeira vez que essas regiões não tiveram representantes na competição, enquanto 75% dos clubes participantes eram da Região Sudeste.

Conclusões: O CBFF-A1 está progressivamente se tornando uma extensão do futebol de homens, com uma concentração de poder nas regiões mais economicamente favorecidas, o que pode comprometer o desenvolvimento equitativo do futebol de mulheres no Brasil.

"Ah, aqui eu não sou invisível, né”: a necessidade de espaços sistematizados e exclusivos para a iniciação e a formação de meninas no futebol

Maria Thereza Oliveira Souza — 2025-02-24

Introdução:As dificuldades históricas de desenvolvimento sistematizado do futebol feminino no Brasil refletiram em uma defasagem de participação de meninas em escolas e espaços de lazer na infância.

Objetivo:Apresentar a importância da formação de futebol em espaços sistematizados e exclusivos para meninas.

Métodos:Foi realizada uma pesquisa-ação, a qual se caracteriza como um processo que segue um ciclo entre agir sobre e investigar determinada prática, em um projeto de extensão e pesquisa que almeja oferecer a prática de futebol para meninas de 10 a 14 anos. Este possui duas turmas (manhã e tarde), com aproximadamente 25 meninas cada. Os dados foram coletados a partir de anotação em caderno de campo.

Resultados:Percebeu-se que o sucesso atingido em situações de jogo entre meninas é fundamental para o desenvolvimento dogosto pela modalidade, que o desenvolvimento técnico e tático das meninas aconteceu de maneira rápida, que a socialização se tornou fator predominante e que houve o desenvolvimento da lógica do fair play. Além disso, foram muitos os relatos feitos pelos pais sobre mudanças comportamentais delas após começarem a treinar na equipe, principalmente relacionadas à autoconfiança para exigir direitos de participação em brincadeiras e jogos de futebol na escola.

Conclusão:Há necessidade latente de que mais ambientes exclusivos para a iniciação e a formação de meninas no futebol sejam criados no Brasil. A importância disso reside no fato de que assim elas se sentem mais seguras para se arriscar nas disputas e nos próprios fundamentos técnicos e táticos pertencentes ao jogo.