Gênero, Envelhecimento e Cuidado: uma Análise Fílmica de “Amor”
DOI:
https://doi.org/10.21118/apgs.v17i1.17786Palavras-chave:
Cuidado, Velhice, Envelhecimento, Gênero, Análise FílmicaResumo
Objetivo da pesquisa: Este artigo tem como objetivo refletir sobre relações de gênero e práticas de cuidado no envelhecimento a partir de elementos discursivos e não discursivos que são constitutivos do imaginário sobre o cuidado.
Enquadramento teórico: Desenvolvemos articulações entre os estudos de gênero e os estudos sobre o cuidado, com ênfase no cuidado de pessoas idosas.
Metodologia: Discutimos tais questões a partir do filme intitulado “Amor” (2012), dirigido pelo austríaco Michael Haneke. Para o desenvolvimento da análise fílmica, coletamos os dados por meio da observação de cenas do filme e levantamento documental do roteiro e de críticas especializadas. No processo de análise, utilizamos técnicas de análise teórico-empírica ancoradas na Análise do Discurso.
Resultados: Identificamos a existência de dois discursos em torno das práticas sociais de cuidado, que denominamos de cuidado por amor e cuidado por dinheiro, sendo o primeiro projetado como ideal, ainda que marcado por interdições e silenciamentos. Ainda, evidenciamos que as interações concretas entre sujeitos de cuidado produzem deslocamentos nas concepções de ética e moral que permeiam a relação de cuidado.
Originalidade: Observamos que o rompimento com o senso comum proporcionado pelo filme sobre o cuidado (homens cuidando de mulheres) permite visibilizar, com maior nitidez, os conflitos e sobrecargas inerentes a como se cuida na nossa sociedade.
Contribuições teóricas e práticas: Entendemos que, a despeito da história analisada se passar no Norte Global, ela permite refletir sobre o atual déficit de cuidado em curso no Brasil, contribuindo para pensarmos a produção de políticas públicas voltadas às relações geracionais e de gênero que circundam o cuidado numa população em crescente envelhecimento e marcada pela feminilização da velhice. Também permite evidenciar tabus e silenciamentos que circundam os cuidados familiares. Uma contribuição adicional, em termos metodológicos, é a operacionalização da análise fílmica, pouco usual para os estudos na Administração.
Downloads
Referências
Aguirre, Rosario. (2009). Los cuidados familiares como problema público y objeto de políticas. In: Aguirre, Rosario. Las bases invisibles del bienestar social: el trabajo no remunerado en el Uruguay. Montevideo: Unifem Uruguay, 87-123.
Aguirre, Rosario, Scavino Solari, Sol. (2016). Cuidar en la vejez: desigualdades de género en Uruguay. Papeles del CEIC,1(1), 1-41.
Batthyány, Karina. (2009). Cuidado de personas dependientes y género. In: Aguirre, Rosario. Las bases invisibles del bienestar social: el trabajo no remunerado en el Uruguay. Montevideo: Unifem Uruguay, 87-123.
Borgeaud-Garciandía, Natacha. (2012). La cuidadora domiciliaria de ancianos: de la poca visibilidad de su desempeño laboral. Trabajo y Sociedad, 19, 321-344.
Borgo, Érico. (2013). Amor (Crítica). Omelete. Disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/amor-critica. Acesso em 09 de março de 2022.
Calil, Ricardo. (2013). Haneke chega ao ápice da carreira com 'Amor' (Crítica). Folha de São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/01/1216477-critica-haneke-chega-ao-apice-da-carreira-com-amor.shtml. Acesso em 09 de março de 2022.
Camarano, Ana Amélia. (2003). Mulher idosa: suporte familiar ou agente de mudança? Estud. av., São Paulo,17(49), 35-63.
Carrasco, Cristina. (2011). La economia del cuidado: planteamiento actual y desafios pendientes. Revista de Economía Crítica. 11(1), 205-225.
Charaudeau, Patrick; Maingueneau, Dominique. (2016). Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Editora Contexto.
Debert, Guida G. (1997). Gênero e Envelhecimento. Revista de Estudos Feministas. Florianópolis, 1(1), 33-51.
Debert, Guita Grin, Pulhez, Mariana Marques. (2017). Desafios do Cuidado: Gênero, Velhice e Deficiência. Textos Didáticos 66(1), 125- 151.
Ferreira, Francisco A. C., Machado, Diego Q., Silva, Joelma S., & Silva, Luis M. T. (2019). Estrelas Além do Tempo”: uma Análise Fílmica da Práticas de Gestão da Diversidade nas Organizações. Anais... Encontro Nacional de Estudos Organizacionais da Anpad (ENEO/ANPAD). Fortaleza.
Figueiredo, Maria do Livramento F., Tyrrel, Maria Antonieta R., Carvalho, Cecilia Maria R. G., Luz, Maria Helena B.A., Amorim, Fernanda C. M., Loiola, & Nay L. A. (2007). As diferenças de gênero na velhice. Rev. Bras. Enferm.. Brasília, 60(4), 422-427.
Gilligan, Carol. (1982). In a different voice. Londres: Harvard University Press.
Gómez, Laura Nuño. (2010). El mito del varón sustentador: orígenes y consecuencias de la división sexual del trabajo. Barcelona: Içaria.
Gonçalo, Pablo. (2013). Amor (Crítica). Revista Cinética. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/nova/category/pablo-goncalo/. Acesso em 09 de março de 2022.
Gorz, André. (2018). Carta a D.: história de um amor. São Paulo: Companhia das Letras.
Haneke, Michael. (2012). Amour. Disponível em: https://www.scriptslug.com/assets/uploads/scripts/amour-2012.pdf. Acesso em 09 de março de 2022.
Hirata, Helena, Guimarães, Nadya Araujo (Org.). (2012). Cuidado e cuidadoras: as várias faces do trabalho do care. São Paulo: Atlas.
Hochschild, Arlie R. (1979). Emotion work, feeling rules, and social structure. American Journal of Sociology. 85(3), 551-575.
Kergoat, Danièle. (2009). Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In: Hirata. Helena et al. (orgs.). Dicionário Crítico do Feminismo. São Paulo: UNESP, 67-75.
Kittay, Eva F. (1999). Love’s labor. New York: Routledge.
Maingueneau, Dominique. (2012). Cenas de enunciação. 2ª edição. São Paulo: Parábola.
Maingueneau, Dominique. (2015). Gênese do discurso. São Paulo: Parábola Editorial.
Marcondes, Mariana M. (2013). O cuidado na perspectiva da divisão sexual do trabalho: contribuições para os estudos sobre a feminização do mundo do trabalho. In: YANNOULAS, Silvia Cristina. Trabalhadoras: Análise da Feminização das profissões e ocupações. Brasília: Abaré, 251-280.
Molinier, Pascale, Paperman, Patricia. (2015). Descompartimentar a noção de cuidado? Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília,18(1), 43-57.
Oltramari, Andrea P., Lopes, Fernanda T., & Wannmacher, Eduardo. (2018) 'Uma Câmera na Mão e uma Ideia na Cabeça': O Cinema e suas Possibilidades na Formação em Administração. Farol - Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 5(14), 954-988.
Organização Das Nações Unidas (ONU). (2019). ONU News: Perspectiva Global Reportagens Humanas. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/06/1676601. Acesso em 09 de março de 2022.
Oyewumi, Oyeronke. (2004). Conceituando o Gênero: Os fundamentos eurocêntricos dos conceitos feministas e o desafio das epistemologias africanas. CODESRIA Gender Series. Dakar, CODESRIA.
Penafri, Manuela. (2009). Análise de Filmes - conceitos e metodologia(s). Anais...VI Congresso da Associação Portuguesa de Comunicação.
Soares, Angelo. Cuidado e Confiança. (2016). In: Abreu, Alice R. de P.; Hirata, Helena S.; Lombardi, Maria Rosa (orgs). Gênero e trabalho no Brasil e na França: Perspectivas interseccionais. São Paulo: Boitempo, 213-222.
Sobrinho, Marcelo. Amor (Crítica). (2017). Plano Crítico. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-amor-2012/. Acesso em 09 de março de 2022.
Sorj, Bila. (2013). Arenas de cuidado nas interseções entre gênero e classe social no Brasil. Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas. São Paulo, 43(149), 478-491.
Tronto, Joan C. (1987). Beyond Gender Difference to a Theory of Care. Journal of Women in Culture and Society. Chicago,12,644-663.
Tronto, Joan C. (2009). Moral Boundaries: A political argument for an ethic of care. New York: Routledge.
Villaça, Pablo. Amor (Crítica). (2019). Cinema em Cena. Carta Capital. Disponível em: https://cinemaemcena.com.br/critica/filme/5870/amor. Acesso em 09 de março de 2022.
Woodward, K. (2016). Um segredo público: O viver assistido, cuidadores, globalização. Cadernos Pagu, 46, 17–57.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença

Este trabalho é licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 3.0 International License.
Autores que publicam na Revista de Administração Pública e GestãoSocial (APGS) devem concordar com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado soba Creative Commons Attribution License, permitindo o compartilhamentodo trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalhopublicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional oucomo capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar críticas e sugestões proveitosas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
- Autores reservam o direito da editoria desta revista de efetuar, nos trabalhos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a atender sua política editorial e a manter opadrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
- Autores assumem exclusiva responsabilidade pelas suas opiniões emitidas nos trabalhos publicados nesta revista.