O poeta e a cidade
Hannah Arendt e a função política da poesia
Abstract
Hannah Arendt recorre, por vezes, em sua obra, aos poetas, buscando encontrar em seus versos uma expressão aproximada do que acontecera entre os homens no mundo que estes têm em comum. Apresentando-os como aqueles aos quais caberia manter e cuidar do “depósito da memória”, a autora parecia estar convencida de que competia a estes “fazedores de linguagem” conservar, fazer perdurar na recordação tudo aquilo que deve sua existência exclusivamente aos homens, revelando, neste mesmo movimento, o seu significado e ensinando-lhes, ainda, “a aceitação das coisas tais como são”. Preservação e revelação que seriam possíveis precisamente por sua transformação em linguagem. Explorando, assim, o papel central da linguagem no laço estreito que vincularia, para Arendt, pensamento e experiência, pretendo, neste artigo, refletir acerca da possível “função política” que o poeta – ainda que ocupando uma posição exterior ao âmbito político, às relações de poder – desempenharia, na perspectiva arendtiana, na cidade.