A invenção dos direitos e a racialização dos patrimônios

a Constituição de 1988 e a desconstrução do monolito monocultural da nação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32361/2021130211226

Palavras-chave:

Patrimônio, Invenção, Racismo, Constituição, Representação

Resumo

O artigo objetiva discutir como se dão as invenções dos patrimônios como hipóteses de direitos e demonstrar como, através disso, promove-se a racialização da distinção dessas escolhas. Questiona-se aqui a sua função em sistemas culturais que interagem com a patrimonialização, a qual costuma dar distinção às práticas e bens culturais dos grupos hegemônicos. Nesse contexto, o uso do Direito, através do seu poder de nomeação contido nas práticas patrimoniais, tem sido um dos artifícios utilizados para se racializar o patrimônio e, consequentemente, a imagem e a representação da Nação. Como conclusão, demonstra-se que a Constituição Federal de 1988 rompeu com a lógica hegemônica quando permitiu que exemplares das culturas indígenas, afro-brasileiras e de outros grupos participantes do processo civilizatório pátrio abrissem fissuras no monolito da representação monocultural da Nação de tradição luso-brasileira. A metodologia utilizada foi a revisão crítica de literatura.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Paulo Fernando Soares Pereira, Advocacia-Geral da União

Doutor em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília. Pós-doutorando em Teoria do Estado e Direito Constitucional na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mestre em Direito e Instituições do Sistema de Justiça pela Universidade Federal do Maranhão. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Roraima. Professor universitário. Procurador Federal. E-mail: paulofsp1983@gmail.com.

Referências

ANDRÉS, Tello. Notas sobre las políticas del patrimonio cultural. Cuadernos Interculturales, Valparaíso, vol. 8, nº 15, p. 115-131, jul./dez. 2010.

ÁNGELES QUEROL, María. Manual de gestión del patrimonio cultural. Madrid: Akal, 2010.

ARAÚJO, Mundinha. Em busca de Dom Cosme Bento das Chagas, Negro Cosme: tutor e imperador da liberdade. Imperatriz: Ética, 2008.

ARRUTI, José Maurício Andion. A emergência dos “remanescentes”: notas para o diálogo entre indígenas e quilombolas. Mana: estudos de Antropologia Social, vol. 3, nº 02, p. 7-38, 1997.

ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. “Histórias do Balaio”. Historiografia, memória oral e as origens da Balaiada. História Oral, vol. 01, p. 67-89, 1998.

ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. A Guerra dos Bem-te-vis: a Balaiada na Memória Oral. 2. ed. São Luís: EDUFMA, 2008.

ASSUNÇÃO, Matthias Röhring. A memória do tempo de cativeiro no Maranhão. Tempo, vol. 29, p. 67-110, 2010.

ASSUNÇAO, Matthias Röhring; ABREU, Martha. Da cultura popular à cultura negra. In: ABREU, Martha; XAVIER, Giovana; MONTEIRO, Lívia; BRASIL, Eric. Cultura negra: festas, carnavais e patrimônios negros (vol. I). Niterói: EDUFF, 2017, p. 15-28.

ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. De caboclos a bem-te-vis: formação do campesinato numa sociedade escravista: Maranhão, 1800 – 1850. 2 ed. São Paulo: Annablume, 2018.

ARIZPE, Lourdes. Los debates internacionales en torno al patrimonio cultural inmaterial. Cuicuilco: Revista de Ciencias Antropológicas, vol. 13, nº 38, p. 13-27, sep./dic. 2006.

AZEVEDO, Paulo Ormindo de. El pelourinho de Bahia, cuatro décadas después. Iconos: Revista de Ciencias Sociales, nº 20, p. 45-52, sep. 2004.

BALLART HERNÁNDEZ, Josep; TRESSERRAS, Jordi Juan i. Gestión del patrimonio cultural. Barcelona: Ariel, 2014.

BARRENECHEA VERGARA, Paulina. Patrimonio, narrativas racializadas y políticas de la memoria. Abordaje a un manscrito afrodescendiente en el Valle de Azapa. Estudios Avanzados, Santiago de Chile, nº 23, p. 15-31, jun. 2015.

BERMÚDEZ, Alejandro; ARBELOA, Joan Vianney M.; GIRALT, Adelina. Intervención en el patrimonio cultural: creación y gestión de proyectos. Madrid: Editorial Síntesis, 2004.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. 14. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Tradução de Daniela Kern e Guilherme J. F. Teixeira. 2. ed. Porto Alegre: Editora Zouk, 2013.

CARVALHO, José Jorge de. Metamorfoses das tradições performáticas afro-brasileiras: do patrimônio cultural a indústria de entretenimento. Série Antropologia, Brasília (UnB), nº 354, p. 1- 21, 2004.

SCIFONI, Simone. Patrimônio mundial: do ideal humanista à utopia de uma nova civilização. GEOUSP Espaço e Tempo, nº 14, p. 77-88, 2003.

CAMARGO, Haroldo Leitão. Uma pré-história do turismo no Brasil: recreações aristocráticas e lazeres burgueses (1808-1850). São Paulo: Editora Aleph, 2007.

CHUVA, Márcia. Introdução. História e patrimônio: entre o risco e o traço, a trama. Revista do Patrimônio, vol. 34, p. 11-24, 2012.

CHUVA, Márcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista do Patrimônio, vol. 34, p. 147-166, 2012b.

CRESPI VALLBONA, Monserrat; PLANELLS COSTA, Margarita. Patrimonio cultural. Madrid: Editorial Síntesis, 2010.

COLLINS, John. Revolt of the Saints: memory and redemption in the twilight of Brazilian racial democracy. Durham: Duke University Press, 2015.

COLOMBATO, Lucía Carolina; MEDICI, Alejandro Marcelo. El derecho humano a los patrimonios culturales em clave decolonial. RBSD – Revista Brasileira de Sociologia do Direito, vol. 3, nº 3, p. 67-95, set./dez. 2016.

DE LA GARZA, María Teresa. Política de la memoria: una mirada sobre Occidente desde el margen. Barcelona/Ciudad de México: Anthropos Editorial, 2002.

DONAIRE, Jose Antonio. Turisme cultural: entre l’experiència i el ritual. Bellcaire d'Empordà: Edicions Vitel·la, 2008.

ESPINHEIRA, Gey. El patrimonio como domesticación de la cultura. Comentarios al dossier de ICONOS 20. Iconos: Revista Ciencias Sociales, nº 21, p. 69-77, ene. 2005.

FANON, Frantz. Os condenados da Terra. Prefácio de Jean-Paul Sartre. Tradução de José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes: no limiar de uma nova era. Vol. II. São Paulo: Globo, 2008.

FONTAL MERILLAS, Olaia (coord.). La educación patrimonial: del patrimonio a las personas. Gijón: Ediciones Trea, 2015.

FOUCAULT, Michel. Nascimento e transformações do racismo [Aula de 28 de janeiro de 1976]. In: ________. Em defesa da sociedade. Tradução de Maria Ermantina Galvão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010, p. 55-71.

FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

GOMES, Flávio dos Santos. Terra e camponeses negros: o legado da pós-emancipação. Revista do Patrimônio, vol. 34, p. 375-395, 2012.

GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Ressonância, materialidade e subjetividade: as culturas como patrimônios. Horizontes Antropológicos, ano 11, nº 23, p. 15-36, jan./jun. 2005.

GONZÁLEZ ALCANTUD, José A. El malestar en la cultura patrimonial: la otra memoria global. Barcelona: Anthropos Editorial, 2012.

GONZÁLEZ-VARAS IBÁÑEZ, Ignacio. Conservación de bienes culturales: teoría, historia, principios y normas. 6. ed. Madrid: Ediciones Cátedra, 2008.

GURAN, Milton. Sobre o longo percurso da matriz africana pelo seu reconhecimento patrimonial como uma condição para a plena cidadania. Revista do Patrimônio, nº 35, p. 213-226, 2017.

GUTIÉRREZ ROBLEDO, J. L.; GARROTE MESTRE, Lucía (coord.). Del ayer para el mañana: medidas de protección del patrimonio. Valladolid: Fundación del Patrimonio Historico de Castilla y León, 2004.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Traduzido por Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Edições Vértice, 1990.

LIMA, Alessandra Rodrigues. Patrimônio cultural afro-brasileiro: narrativas pelo IPHAN a partir da ação patrimonial. Dissertação (Mestrado Profissional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN), 2012, 157 fl.

LIMA, Alessandra Rodrigues. Reconhecimento do Patrimônio Cultural Afro-brasileiro. Revista Palmares: cultura afro-brasileira, Brasília, ano X, edição 08, p. 6-15, nov. 2014.

PARÍS POMBO, María Dolores. Racismo y nacionalismo: la construcción de identidades excluyentes. Política y Cultura, México, nº 12, p. 53-76, 1999.

PAQUIN, Alexandra Georgescu. La actualización patrimonial a través de la arquitectura contemporánea. Traducción de Juan Francisco Martínez Benavides. Gijón: Trea, 2015.

PEREIRA, Paulo Fernando Soares; FARRANHA, Ana C. Sociedade, Estado e as políticas patrimoniais: por um necessário diálogo. Publicações da Escola da AGU, Brasília, vol. 9, nº 3 [Direitos culturais, a questão patrimonial brasileira e a AGU], p. 199-219, jul./set. 2017.

PIEDRAS, Ernesto. Industrias y patrimonio cultural en el desarrollo económico de México. Cuicuilco: Revista de Ciencias Antropológicas, vol. 13, nº 38, p. 29-46, set./dic. 2006.

MACHADO, Maria Helena. Em torno da autonomia escrava: uma nova direção para a história social da escravidão. Revista Brasileira de História, vol. 8, nº 16, p. 143-160, mar./ago. 1988.

MARTÍN JUEZ, Fernando. Patrimonios. Cuicuilco: Revista de Ciencias Antropológicas, nueva época, vol. 11, nº 30, p. 1-16, ene./abr. 2004.

MESKELL, Lynn. Heritage, gentrification, participation: remaking urban landscapes in the name of culture and historic preservation. International Journal of Heritage Studies, 2018.

NDLOVU-GATSHENI, Sabelo. El movimento estudiantil “Rhodes debe caer” (Rhodes Must Fall): las universidades sudafricanas como campo de lucha. Tabula Rasa: Revista de Humanidades, nº 25, p. 195-224, 2016.

NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Diversidade e sentidos do patrimônio cultural: uma proposta de leitura da trajetória de reconhecimento da cultura afro-brasileira como patrimônio nacional. Anos 90: Programa de Pós-Graduação em História, vol. 15, nº 27, p. 233-255, jul. 2008.

RAMOS, Arthur. Os grandes problemas da antropologia brasileira [documenta]. Mana: estudos de Antropologia Social, vol. 21, nº 01, p. 195-212, 2015.

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima. Conceito de patrimônio cultural no Brasil: do Conde de Galvéias à Constituição de 1988. In: MARTINS, Clerton (org.). Patrimônio cultural: da memória ao sentido do lugar. São Paulo: Roca, 2006, p. 1-16.

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima. Patrimônio cultural: a propriedade dos bens culturais no Estado Democrático de Direito. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2008.

ROJAS ALCAYAGA, Mauricio. Tradición y modernización: los espejismos en las políticas patrimoniales de México y Chile. Cuicuilco: Revista de Ciencias Antropológicas, vol. 13, nº 38, p. 109-132, sep./dic. 2006.

ROMO, Anadelia. Patrimônio e poder nas ruínas do Pelourinho. Afro-Ásia, nº 52, p. 389-395, 2015.

SALAZAR PERALTA, Ana María. La democracia cultural y los movimentos patrimonialistas en México. Cuicuilco: Revista de Ciencias Antropológicas, vol. 13, nº 38, p. 73-88, sep./dec. 2006.

SANTOS, Jocélio Teles dos. O poder da cultura e a cultura do poder: a disputa simbólica da herança cultural negra no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2005.

SANTOS, Joel Rufino dos. Culturas negras, civilização brasileira. Revista do Patrimônio, nº 25 [Negro brasileiro], p. 5-10, 1997.

SEGATO, Rita Laura. Raça é signo. Série Antropologia, Brasília (UnB), nº 372, p. 1-16, 2005.

SEGATO, Rita Laura. La Nación y sus otros: raza, etnicidad y diversidade religiosa en tempos de políticas de la identidade. 2. ed. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.

SERRA, Ordep. Monumentos negros: uma experiência. Afro-Ásia, nº 33, p. 169-205, 2005.

SOUZA FILHO, Benedito; PAULA ANDRADE, Maristela de Paula. Patrimônio imaterial de quilombolas: limites da metodologia de inventário de referências culturais. Horizontes Antropológicos, ano 18, nº 38, p. 75-99, jul./dez. 2012.

SOUZA FILHO, Benedito. Os novos capitães do mato: conflitos e disputa territorial em Alcântara. São Luís: EDUFMA, 2013.

SUBIRATS, Eduardo. La recuperación de la memoria. Barcelona: Montesinos, 2016.

SWANDSON, Stephanie. Repatriating cultural property: the dispute between Yale and Peru over the treasures of Machu Picchu. San Diego International Law Journal, San Diego, vol. 10, nº 469, p. 469-494, 2008-2009.

THIAW, Ibrahima. História, cultura material e construções identitárias na Senegâmbia. Traduzido por Alba Valéria Tinoco da Silva e Marcelo Nascimento Bernardo da Cunha. Afro-Ásia, nº 45, p. 9-24, 2012.

TOCQUEVILLE, Alexis. A democracia na América. Tradução e notas de Neil Ribeiro da Silva. 4. ed. Belo Horizonte/São Paulo: Editora Itatiaia/Editora da USP, 1998.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Silenciando o passado: poder e a produção da história. Tradução de Sebastião Nascimento. Curitiba: Huya, 2016.

VASSALO, Simone; CICALO, André. Por onde os africanos chegaram: o Cais do Valongo e a institucionalização da memória do tráfico negreiro na região portuária do Rio de Janeiro. Horizontes Antropológicos, ano 21, nº 43, p. 239-271, jan./jun. 2015.

VELASCO MAILLA, Honorio; PRIETO DE PEDRO, Jesús (eds.). La diversidad cultural: análisis sistemático e interdisciplinar de la Convención de la UNESCO. Madrid: Trotta, 2016.

VELASCO MOLINA, Mónica. Las primeras aproximaciones de la política exterior de Brasil en África y la utilización de las prácticas culturales de la población negra brasileña. De Raíz Diversa: Revista Especializada en Estudios Latinoamericanos, vol. 1, nº 2, p. 213-244, oct./dic. 2014.

VELASCO MOLINA, Mónica. Teorías y democracia raciales: la resignificación de la cultura negra en Brasil. Ciudad de México: Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM/Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe-CIALC, 2016.

VÉRAN, Jean-François. Rio das Rãs: memória de uma “comunidade remanescente de quilombo”. Afro-Ásia, nº 21-22, p. 295-323,1998-1999.

Downloads

Publicado

01-06-2021

Como Citar

PEREIRA, P. F. S. A invenção dos direitos e a racialização dos patrimônios: a Constituição de 1988 e a desconstrução do monolito monocultural da nação. Revista de Direito, [S. l.], v. 13, n. 02, p. 01–33, 2021. DOI: 10.32361/2021130211226. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/11226. Acesso em: 23 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos do dossiê

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)