Negacionismo científico no currículo de Biologia do Novo Ensino Médiodo Estado de Minas Gerais:

ideologia, conhecimento e justiça social

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47328/rpv.v13i2.16897

Palavras-chave:

Reforma do Ensino Médio, Negacionismo cientifico, Educação em Ciências

Resumo

Dentre as principais questões em voga no campo da Educação em Ciências estão o Novo Ensino Médio e o negacionismo científico. Articulando reflexões em torno dessas pautas, o artigo tem como objetivo investigar em que medida os currículos de Biologia prescritos no cenário de reforma do Ensino Médio oportunizam discussões e desconstruções do negacionismo científico e quais sentidos são configurados em seus documentos. Para isso, fundamenta-se teórica e metodologicamente em estudos do campo do Currículo e focaliza as narrativas sistêmicas sobre a disciplina escolar Biologia no cenário de Minas Gerais. A partir de uma pesquisa documental, o trabalho escrutina as prescrições curriculares, buscando localizar e refletir sobre os discursos presentes em documentos oficiais elaborados pelo governo mineiro a respeito do negacionismo científico e seus assuntos correlatos, como fake news e pós-verdade. A análise desenvolvida também aborda considerações sobre desdobramentos possíveis para a prática pedagógica e o trabalho docente. Conclui-se que as narrativas sistêmicas materializadas nos documentos oficiais voltados ao ensino de Biologia em Minas Gerais são evasivas em relação ao enfrentamento do negacionismo científico, negligenciando o fomento crítico à construção de conceitos e valores científicos e epistêmicos por professores e estudantes. Por outro lado, tais narrativas investem em uma lógica neotecnicista e instrumental que se orienta pela pedagogia das competências, condizente com perspectivas educacionais alinhadas à lógica de formação mercadológica que vai de encontro à proposta de formação crítica, cidadã e emancipadora há décadas defendida pela pesquisa em Educação em Ciências.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Sandra Escovedo Selles, Universidade Federal Fluminense

Professora titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. Doutora em Science Education pela University of East Anglia. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Currículo, Docência e Cultura (CDC/UFF/CNPq).

Rodrigo Cerqueira do Nascimento Borba, Universidade do Estado de Minas Gerais

Professor da Universidade do Estado de Minas Gerais. Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Líder do Laboratório de Investigações em Narrativas, Currículos e Educação (LINCE/UEMG/CNPq).

Bruno Venancio de Oliveira, Universidade Federal Fluminense

Doutorando em Educação na Universidade Federal Fluminense. Mestre em Educação pela Universidade Federal de São João Del-Rey.

Maicon Azevedo, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca

Professor e pesquisador no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense.

Referências

ALVES-MAZZOTTI, A. J. O planejamento de pesquisas qualitativas em Educação. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas. Impresso), São Paulo, v. 77, p. 53-61, 1991.

APPLE, M. Reestruturação educativa e curricular e as agendas neoliberal e neoconservadora: entrevista com Michael W. Apple. Currículo sem Fronteiras. v.1, n. 1, 2001, pp. 5-33.

APPLE, M. Produzindo diferença: neoliberalismo, neoconservadorismo e a política de reforma educacional. Linhas Críticas. Brasília, n. 45. 2015. pp. 606-544.

AZEVEDO, M. Reforma do Ensino Médio: entre o dito e não dito. In: VILELA, M. et al. (Orgs.). Aqui também tem Currículo! Saberes em diálogo no ensino de Biologia. 1ed.Curitiba: Appris Editora, 2020, v. 1, p. 89-106.

AZEVEDO, M.; BORBA, R. C. N. Educação em Ciências em tempos de pós-verdade: pensando sentidos e discutindo intencionalidades. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, p. 1551-1576, 2020.

BALL, S. J.; MAGUIRE, M.; BRAUN, A. Como as escolas fazem as políticas: atuação em escolas secundárias. Tradução de Janete Bridon. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016. 220p.

BARBOSA, M. M. BNCC no Estado do Rio de Janeiro: processo de reelaboração da versão nacional. 2020. 151 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020.

BORBA, R. C. N. O risco de apagamento da biologia dos currículos brasileiros pelas reformas educacionais. Bio-grafia: escritos sobre la biologia y su ensenanza, v. 1, p. 3344-3351, 2022.

BORBA, R. C. N.; ANDRADE, M. C. P.; SELLES, S. E. Ensino de Ciências e Biologia e o cenário de restauração conservadora no Brasil: inquietações e reflexões. Revista Interinstitucional Artes de Educar, v. 5, p. 144-162, 2019.

BRASIL. Lei Nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis n º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral, 2017

CASSIANI, S.; SELLES, S. E.; OSTERMANN, F. Negacionismo científico e crítica à Ciência: interrogações decoloniais. Ciência & Educação (online), v. 28, p. 1-12, 2022.

CIAVATTA, M.; RAMOS, M. Ensino Médio e Educação Profissional no Brasil: dualidade e fragmentação. Retratos da Escola, v. 5, p. 27, 2011.

DUARTE, R. M. Pesquisa qualitativa em educação: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), São Paulo, v. 115, n.115, p. 139-154, 2002.

DUNKER, C. I. L Subjetividade em Tempos de Pós Verdade. In: DUNKER, C.I. et al. Etica e Pos-verdade. Porto Alegre: Dublinense, p. 7 - 37, 2017.

FARIA FILHO, L. M. “A legislação escolar como fonte para a história da educação: uma tentativa de interpretação”. In: FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org). Educação, modernidade e civilização. Belo Horizonte: Autêntica, 1998, p. 89-125.

GOODSON, I. Narrativas em Educação: a vida e a voz dos professores. Porto: Porto Editora, 2015.

GOODSON, I. Currículo, narrativa pessoal e futuro social. Campinas: Editora UNICAMP, 2019. 296p.

GOODSON, I. Aprendizagem, currículo e política de vida. Petrópolis: Vozes, 2020.

LATOUR, B. Por que a crítica perdeu a força? De questões de fato a questões de interesse. O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, v. 29, n. 46, p. 173-204, jan.-jun. 2020.

LAVAL, C. A escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público. Tradução de Mariana Echalar. 1. ed. São Paulo: Boitempo, 2019.

LE GOFF, J. Memória e História. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997, p. 167-199.

MACEDO, E. Base nacional curricular comum: a falsa oposição entre conhecimento para fazer algo e conhecimento em si. Educação em Revista (UFMG), v. 32, p. 45-68, 2016.

MACEDO, E. F. Fazendo a Base virar realidade: competências e o germe da comparação. Retratos da Escola, v. 13, p. 39-58, 2019.

MACHADO, L.; SOUSA, N. P.; SELLES, S. E Narrativas docentes de educação sexual em perspectivas geracionais. Revista de Ensino de Biologia da Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio), v. 14, p. 192-212, 2021.

SÁ-SILVA, J.R; ALMEIDA, C.D; GUINDANI, J.F; SILVA, R.J.P; SILVA. Y.J.A. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. In: SÁ-SILVA, J.R. (Org.). Linhas de pensamento nas pesquisas em Educação. Curitiba: CRV, 2022

SELLES, S. E.; ANDRADE, E. P. Políticas Curriculares e subalternização do trabalho docente. Educação em Foco, v. 21, p. 39-64, 2016.

SELLES, S. E.; OLIVEIRA, A. C. P. Ameaças à Disciplina Escolar Biologia no -Novo- Ensino Médio (NEM): Atravessamentos Entre BNCC e BNC-Formação. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 22, p. e40802, 2022.

SHIROMA, E. O.; EVANGELISTA, O. Formação humana ou produção de resultados? Trabalho docente na encruzilhada. Revista Contemporânea de Educação, v. 10, p. 89-114, 2015.

SILVA, H. M. Decrease of Medical Knowledge during the Pandemic through the Internet and Social Networks: The Brazilian Case. Interdisciplinary Journal of Virtual Learning in Medical Sciences (IJVLMS), v. 14, p. 2-4, 2023a.

SILVA, H. M. A sad example of the destructive potential of Brazilian science denialism. Revista Científic@ Universitas, v. 10, p. 15-31, 2023b.

SILVA, H. M. Information and misinformation about climate change: lessons from Brazil. Ethics in Science and Environmental Politics, v. 22, p. 51-56, 2022.

SILVA, H. M. The Brazilian Scientific Denialism Through The American Journal of Medicine. American Journal of Medicine, v. 1, p. 1, 2021.

TEIXEIRA, P.; HENRIQUES, A. O Novo Conservadorismo Brasileiro e suas Implicações para o Ensino de Biologia. In: DUSO, L. et al. (Orgs.). Itinerários de Resistência: Pluralidade e Laicidade no Ensino de Ciências e Biologia. 1ed.São Paulo: Livraria da Física, 2022, p. 153-166.

VILELA, M. L.; SELLES, S. E. É possível uma Educação em Ciências crítica em tempos de negacionismo científico?. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, p. 1722-1747, 2020.

Downloads

Publicado

15-05-2024

Como Citar

ESCOVEDO SELLES, S.; CERQUEIRA DO NASCIMENTO BORBA, R.; VENANCIO DE OLIVEIRA, B.; AZEVEDO, M. Negacionismo científico no currículo de Biologia do Novo Ensino Médiodo Estado de Minas Gerais:: ideologia, conhecimento e justiça social. Revista Ponto de Vista, [S. l.], v. 13, n. 2, p. 01–22, 2024. DOI: 10.47328/rpv.v13i2.16897. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/RPV/article/view/16897. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos Científicos