O familismo nas direitas radicais do Brasil e da Alemanha
análise a partir de narrativas de jovens ativistas
DOI:
https://doi.org/10.31423/oikos.v35i1.16498Palavras-chave:
Familismo, Direitas Radicais, Discursos, NeoconservadorismoResumo
A partir de dados empíricos de um estudo comparado do ativismo juvenil nas Direitas Radicais do Brasil e da Alemanha, identificou-se o familismo como base discursiva de agendas transnacionais. O presente artigo analisa os regimes de representação relacionados ao discurso do familismo nas Direitas Radicais do Brasil e da Alemanha. Explora-se brevemente o cenário de expansão nos países, situando a escolha pelo conceito de Direitas Radicais. No contexto brasileiro, destaca-se a agenda de defesa da família como ponto de encontro das normatividades do conservadorismo social e do neoliberalismo. No caso alemão, destaca-se o reforço de um familismo étnico-nacionalista, em meio à propagação da teoria da ‘grande substituição’. Tal reflexão permite compreender que o familismo nas Direitas Radicais baseia-se em uma imagem restrita e normativa das famílias. Em meio às crises econômicas, tais representações são mobilizadas para posicionar as esquerdas e os movimentos LGBTQIA+ e feministas como ‘inimigos da família’.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Silvio de. Neoconservadorismo e liberalismo. In Solano, Esther (Ed.). O ódio como política. São Paulo: Boitempo, 2018.
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos do Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
ARZHEIMER, Kai; BERNING, Carl C. How the Alternative for Germany (AfD) and their voters veered to the radical right, 2013–2017. Electoral Studies, v. 60, p. 102040, 2019.
ARZHEIMER, Kai. Conceptual Confusion is Not Always a Bad Thing – The Curious Case of European Radical Right Studies. In: MARKER, K.; SCHMITT, A.; SIRSCH, J. (Eds.). Demokratie und Entscheidung. Wiesbaden: Springer VS, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-658-24529-0_3
ARZHEIMER, Kai. The AfD: Finally a successful right-wing populist Eurosceptic party for Germany?. West European Politics, v. 38, n. 3, p. 535-556, 2015.
ÅSBRINK, Elisabeth. When Race Was Removed from Racism: Per Engdahl, the Networks that Saved Fascism and the Making of the Concept of Ethnopluralism. Journal of the History of Ideas, v. 82, n. 1, p. 133-151, 2021.
BECKER, Gary. Treatise on the Family. Chicago: University of Chicago Press, 1981.
BERTOA, Fernando Casak; BOURNE, Angela. Prescribing democracy? Party proscription and party system stability in Germany, Spain and Turkey. European Journal of Political Research, v. 56, n. 2, p. 440-465, 2017.
BETZ, H. G. Radical right-wing populism in Western Europe. Macmillam, 1994.
BETZ, Hans-Georg. The radical right and populism. In: RYDGREN, Jens (Ed.). The Oxford Handbook of the Radical Right. New York: Oxford University Press, 2018. p. 86-104.
BRAUN, Virginia, & CLARKE. Victoria. ‘Using Thematic Analysis in Psychology.’ Qualitative Research in Psychology, v.3, n. 2, p. 77–101, 2006.
BROWN, Wendy. In the Ruins of Neoliberalism: The Rise of Antidemocratic Politics in the West. Nova York: Columbia University Press, 2019.
BROWN, Wendy. Undoing the Demos: Neoliberalism's Stealth Revolution. New York: Zone Books, 2015.
BROWNING, Don. Critical Familism, Civil Society, and the Law. Hofstra Law Review, v. 32, n. 1, p. 12, 2003.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes Louro (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
CAMPANI, Giovanna (Eds.). Understanding the Populist Shift: Othering in a Europe in Crisis. New York: Routledge, 2017. p. 150–178.
CANNELLA, Gaile; LINCOLN, Yvonna. Deploying Qualitative Methods for Critical Social Purposes. Em Canella, Gaile et al. (Eds). Critical qualitative inquiry: Foundations and futures, v. 53, n. 72, p. 243-264, 2015.
CEPÊDA, Vera Alves. A Nova Direita no Brasil: contexto e matrizes conceituais. Mediações - Revista de Ciências Sociais, v. 23, n. 2, p. 40-74, 2018.
COELHO, Fernanda Marina Feitosa; DIAS, Tainah Biela; MARANHÃO, F. Fake news acima de tudo, fake news acima de todos”: Bolsonaro e o “kit gay”,“ideologia de gênero” e fim da “família tradicional”. Revista Eletrônica Correlatio. São Paulo, v. 17, n. 02, p. 67-99, 2018.
COOPER, Melinda. Family Values: Between Neoliberalism and the new Social Conservatism. Boston: MIT Press, 2017.
COSTA, Florença Ávila de Oliveira; MARRA, Marlene Magnabosco. Famílias brasileiras chefiadas por mulheres pobres e monoparentalidade feminina: risco e proteção. Revista Brasileira de Psicodrama, v. 21, n. 1, p. 141-156, 2013.
DAMHUIS, Koen; DE JONGE, Léonie. Going nativist. How to interview the radical right?. International Journal of Qualitative Methods, v. 21, p. 16094069221077761, 2022.
DARDOT, Pierre e LAVAL, Christian. A nova razão de mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
DÍAZ, Belén. “Make (Neo-)Liberalism Cool Again”. Rear-View Mirrors, Creative Destruction and Right-Wing Youth Political Culture in Brazil. 45º Encontro Anual da ANPOCS, 2021.
FERNANDES, Victor José Alves e MACHADO, Daniel Spotorno Moreira. Discurso popular-democrático e o sujeito de negação bolsonarista. Revista de Ciências Sociais: RCS, v. 53, n. 1, p. 23-56, 2022.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis: Vozes, 1971.
FOUCAULT, Michel. El sujeto y el poder. Bogotá: Carpe Diem, 1991.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. In Curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008.
GENTILE, Fabio. A direita brasileira em perspectiva histórica. Plural: Revista de Ciências Sociais, v. 25, n. 1, p. 92-110, 2018.
GENTILE, Fabio. Uma direita ‘plural’: configurações ideológicas e organizações políticas da direita brasileira contemporânea. In: FARIA, F. G.; MARQUES, M. L. B. (Org.). Giros à direita: análises e perspectivas sobre o campo líbero-conservador. Sobral-CE: Editora SertãoCult, 2020. p. 222-240.
GERMANI, Ana Claudia et al. Narrativas: o que aprendemos sobre métodos online durante a pandemia?. New Trends in Qualitative Research, v. 10, p. e526-e526, 2022.
HALL, Stuart. Quem Precisa de Identidade? In: SILVA, T. T. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.
HALL, Stuart. The West and the rest: discourse and power. In: HALL, S. et al. (Orgs.). Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 21, n. 60, 1996.
HOEVELER, Rejane Carolina. A reorganização da extrema direita latino-americana no ascenso bolsonarista: fóruns e redes organizativas. In: FARIA, Fabiano Godinho; MARQUES, Mauro Luiz Barbosa (Org.). Giros à direita: análises e perspectivas sobre o campo líbero-conservador. Sobral-CE: Editora SertãoCult, 2020, p. 71-89.
KALTWASSER, Cristóbal Rovira; TAGGART, Paul. The populist radical right and the pandemic. Government and Opposition, p. 1-21, 2022.
KEYSER, Erich. Rassenforschung und Geschichtsforschung. Archiv für Bevölkerungswissenschaft und Bevölkerungspolitik, 5, 1935.
KLIKAUER, Thomas. German neo-nazis and a new Party. Jewish Political Studies Review, v. 30, n. 1/2, p. 243-252, 2019
KRASTEVA, Anna. Re/De/constructing far-right youth. Em LAZARIDIS, Gabriella; CAMPANI, G. (Eds.), Understanding the Populist Shift: Othering in a Europe in Crisis. New York: Routledge.
LARUELLE, M. Illiberalism: A conceptual introduction. East European Politics, v. 38, n. 2, p. 303-327, 2022.
LAWLESS, Brandi; CHEN, Yea-Wen. Developing a method of critical thematic analysis for qualitative communication inquiry. Howard Journal of Communications, v. 30, n. 1, p. 92-106, 2019.
MANNHEIM, Karl. O problema sociológico das gerações. São Paulo: Ática, 1982.
MAYER, Nonna. Political science approaches to the far right. In: ASHE, Stephen et al. Researching the far right: Theory, Method and practice. Londres: Routledge, Taylor & Francis Group, 2020.
MEIERING, David; DZIRI, Aziz; FOROUTAN, Naika. Connecting Structures: Resistance, Heroic Masculinity and Anti-Feminism as Bridging Narratives within Group Radicalization. International Journal of Conflict and Violence (IJCV), v. 14, n. 2, p. 1–19, 2020. https://doi.org/10.4119/IJCV-3805
MIGUEL, Luiz Felipe. A reemergência da direita brasileira. In: SOLANO, Esther (Ed.). O ódio como política. São Paulo: Boitempo, 2018.
MILLER-IDRISS, Cynthia. Youth and the radical right. In: RYDGREN, Jens (Ed.). The Oxford handbook of the radical right. Oxford: Oxford University Press, 2018. p. 348-365.
MORAES, Patrícia Maccarini. et al. Familismo e política social: aproximações com as bases da formação sócio-histórica brasileira. Revista de Políticas Públicas da UFMA, v. 24, p. 802-818, 2020.
MUDDE, Cas. (Ed.). The Populist Radical Right: A Reader (1st ed.). Londres: Routledge, 2016.
MUDDE, Cas. Fighting the system? Populist radical right parties and party system change. Party Politics, v. 20, n. 2, p. 217–226, 2014.
MUDDE, Cas. Populism: A very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2017.
NETTO, Michel Nicolau; CAVALCANTE, Sávio Machado; CHAGURI, Mariana Miggiolaro. O homem médio e o conservadorismo liberal no Brasil contemporâneo: o lugar da família. Anais do 43º Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 2019.
PASIEKA, Agnieszka. ‘Tomorrow belongs to us ‘: Pathways to Activism in Italian Far-Right Youth Communities. Comparative Studies in Society and History, v. 64, n. 1, p. 150-178, 2022.
PASIEKA, Agnieszka. National, European, Transnational: Far-Right Activism in the Twentieth and Twenty-first Centuries. Societies and Cultures, v. 35, p. 863–875, 2021.
PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Nova direita? Guerras de memória em tempos de Comissão da Verdade (2012-2014). Varia historia, v. 31, p. 863-902, 2015.
PINHEIRO-MACHADO, Rosana et al. Brasil em transe: Bolsonarismo, nova direita e desdemocratização. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2019.
PINWINKLER, Alexander. Volk, Bevölkerung, Rasse, and Raum: Erich Keyser´ s Ambiguous Concept of a German History of Population, ca. 1918-1955. In: German Scholars and Ethnic Cleansing 1920-1945. Berghahn Books, 2004. p. 86-99.
RIERA, Pedro; PASTOR, Marco. Cordons sanitaires or tainted coalitions? The electoral consequences of populist participation in government. Party Politics, v. 28, n. 5, p. 889-902, 2022.
ROCHA, Camila. 'Menos Marx, mais Mises': uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018). Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2019.
ROGERS, Everett; SEBALD, Hans. A Distinction between Familism, Family Integration, and Kinship Orientation. Marriage and Family Living, Vol. 24, No. 1, 1962.
ROSENTHAL, Gabriele. Biographical research. In: Seale, Clive, Gubrium, Jaber e Silverman, David. Qualitative research practice, Londres: Sage, 2004.
SABOGAL, Fabio et al. Hispanic familism and acculturation: What changes and what doesn't?. Hispanic journal of behavioral sciences, v. 9, n. 4, p. 397-412, 1987.
SAFATLE, Vladimir. A economia é a continuação da psicologia por outros meios: sofrimento psíquico e o neoliberalismo como economia moral. Em DA SILVA JUNIOR, Nelson; SAFATLE, Vladimir; Dunker, CHRISTIAN. Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, p. 17-46, 2021.
SALLES, Leonardo Gaspary. Nova direita ou velha direita com wi-fi?: uma interpretação das articulações da “direita” na internet brasileira. Dissertação de Mestrado, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, 2017.
SEVERO, Ricardo Gonçalves; WELLER, Wivian; ARAÚJO, Gabrielle Caseira. Jovens de direita e extrema-direita: posicionamentos políticos no ensino médio. Linhas Críticas, v. 27, p. e36319-e36319, 2021.
SILVA, Ivan Henrique de Mattos. “LIBERAL NA ECONOMIA E CONSERVADOR NOS COSTUMES” Uma totalidade dialética. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 36, p. e3610702, 2021
STEFANONI, Pablo. ¿La rebeldía se volvió de derecha?: Cómo el antiprogresismo y la anticorrección política están construyendo un nuevo sentido común (y por qué la izquierda debería tomarlos en serio). Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2021.
TAGUIEFF, P. A. La rhétorique du national-populisme. Mots. Les langages du politique, v. 9, n. 1, p. 113-139, 1984.
VINUTO, Juliana. A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, v. 22, n. 44, p. 203-220, 2014.
VORLÄNDER, Hans; HEROLD, Maik; SCHÄLLER, Steven. PEGIDA–eine rechtsextremistische Bewegung. Extremismus in Sachsen: Eine kritische Bestandsaufnahme, p. 109-118, 2016.
WAHL, Klaus. The radical right: Biopsychosocial roots and international variations. Cham: Palgrave Macmillan, 2020.
WELLER, Wivian; BASSALO, Lucélia de Moraes Braga. A insurgência de uma geração de jovens conservadores: reflexões a partir de Karl Mannheim. Estudos Avançados, v. 34, p. 391-408, 2020.
WENDY, B. In the Ruins of Neoliberalism: The Rise of Antidemocratic Politics in the West. Nova York: Columbia University Press, 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Oikos: Família e Sociedade em Debate
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A revista se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
Os trabalhos publicados passam a ser propriedade da revista Oikos: Família e Sociedade em Debate. Deve ser consignada a fonte de publicação original. Para a disponibilização e utilização dos artigos em acesso aberto, o periódico adota a licença Creative Commons Attribution 4.0 International Public License: CC BY 4.0. Isso significa que outras pessoas podem compartilhar - copiar ou distribuir o material em qualquer mídia ou formato; adaptar - remixar, transformar e criar a partir do material para qualquer fim, desde que atribuído o devido crédito, fornecer um link para a licença e indicar se foram feitas alterações" (CC BY 4.0).
As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.
Quanto às questões de plágio, a Oikos utiliza o software de verificação de similaridade de conteúdo – política de plágio (CopySpider) nos artigos submetidos ao periódico.
Ao submeter o artigo, o autor se compromete que os dados relatados no artigo não são resultados de má conduta ética, tais como: dados produzidos, uso indevido de imagens, falsificação, plágio, autoplágio ou duplicidade. O autor declara que nada no artigo infringe qualquer direito autoral ou de propriedade intelectual de outrem, pois, caso contrário, ele poderá responder integralmente por qualquer dano causado a terceiros, em todas as esferas administrativas e jurídicas cabíveis, nos estritos termos da Lei nº 9.610/98