O familismo nas direitas radicais do Brasil e da Alemanha

análise a partir de narrativas de jovens ativistas

Autores

  • Beatriz Besen Programa de Mudança Social e Participação Política- Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.31423/oikos.v35i1.16498

Palavras-chave:

Familismo, Direitas Radicais, Discursos, Neoconservadorismo

Resumo

A partir de dados empíricos de um estudo comparado do ativismo juvenil nas Direitas Radicais do Brasil e da Alemanha, identificou-se o familismo como base discursiva de agendas transnacionais. O presente artigo analisa os regimes de representação relacionados ao discurso do familismo nas Direitas Radicais do Brasil e da Alemanha.  Explora-se brevemente o cenário de expansão nos países, situando a escolha pelo conceito de Direitas Radicais. No contexto brasileiro, destaca-se a agenda de defesa da família como ponto de encontro das normatividades do conservadorismo social e do neoliberalismo. No caso alemão, destaca-se o reforço de um familismo étnico-nacionalista, em meio à propagação da teoria da ‘grande substituição’. Tal reflexão permite compreender que o familismo nas Direitas Radicais baseia-se em uma imagem restrita e normativa das famílias. Em meio às crises econômicas, tais representações são mobilizadas para posicionar as esquerdas e os movimentos LGBTQIA+ e feministas como ‘inimigos da família’.

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Publicado

2024-08-16

Como Citar

Besen, B. (2024). O familismo nas direitas radicais do Brasil e da Alemanha: análise a partir de narrativas de jovens ativistas. Oikos: Família E Sociedade Em Debate, 35(1). https://doi.org/10.31423/oikos.v35i1.16498

Edição

Seção

Dossiê Temático