Ruanda é aqui, Ruanda não é aqui:

contribuições de Hannah Arendt para a compreensão do genocídio ruandês

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DOI:

https://doi.org/10.47328/rpv.v12i2.16171

Palavras-chave:

Ruanda, Ideologia-Terror

Resumo

O artigo problematiza as noções de ideologia, terror, mal radical e banalidade do mal, de Hannah Arendt, em face do genocídio ocorrido em Ruanda. É defendida a hipótese de que essas noções, diferentes e ligadas entre si, proporcionam discussão pertinente e compreensão crítica do processo de dizimação dos tutsis por hutus. Tem-se como principal objetivo testar como tais ideias contribuem com a análise da carnificina ruandesa, consideradas, evidentemente, as especificidades históricas de tal fenômeno em relação ao massacre administrativo da população judia na Europa nazi, objeto original de investigação de Arendt. Primeiramente é feita uma breve explanação das ideias de ideologia e terror, a partir, em especial, do último capítulo de Origens do Totalitarismo. A seguir,  passa-se à problematização do processo histórico, das causas e dos significados da eliminação de tutsis, por indivíduos e milícias hutus, muitos dos quais, vizinhos e conhecidos de longa data das famílias dizimadas. São mobilizados os  termos mal radical e banalidade do mal ao se levar em conta a campanha militar e midiática de lideranças políticas hutus pela desumanização dos tutsis, chamados por aqueles de inyenzis (“baratas”). As principais obras utilizadas são constituídas por tomos de Arendt e de estudiosos de seu pensamento e, particularmente, por dois livros, a partir dos quais, em diálogo com o arcabouço arendtiano, a análise é efetivada, a saber: o relato autobiográfico, intitulado Baratas, de Scholastique Mukasonga, uma das sobreviventes do genocídio em questão; e o romance Murambi, o livro das ossadas, do escritor senegalês Boubacar Boris Diop.

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Publicado

21-08-2023

Como Citar

SILVA, D. de C. Ruanda é aqui, Ruanda não é aqui:: contribuições de Hannah Arendt para a compreensão do genocídio ruandês. Revista Ponto de Vista, [S. l.], v. 12, n. 2, p. 01–12, 2023. DOI: 10.47328/rpv.v12i2.16171. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/RPV/article/view/16171. Acesso em: 13 maio. 2024.

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