Feminicídios de mulheres negras e reprodução social da violência no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.31423/oikos.v35i2.16513Palavras-chave:
Mulheres negras, Interseccionalidade, Desigualdades, ViolênciaResumo
O presente artigo tem como propósito explicitar a peculiaridade da violência letal contra mulheres negras na sociedade brasileira. Para tanto, em relação à escala nacional, foram apresentados e discutidos dados publicados pelo Fórum Brasileira de Segurança Pública; e, como estudo de caso, dados obtidos junto ao Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro sobre esta Unidade da Federação. Adota-se a abordagem interseccional como instrumento de análise, a fim de caracterizar a sobreposição de vulnerabilidades que acomete as um lheres negras no Brasil. Por meio de estatísticas descritivas, evidencia-se a discrepância nos números de feminicídios quando se compara a cor ou raça das vítimas em escala nacional e estadual. Estabelece-se que as políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero precisam atentar para a singularidade das mulheres negras, que conjugam opressões de raça, gênero e classe. Destarte, postula-se que mais do que abordagens finalísticas, voltadas prioritariamente para a punição dos agressores, é preciso que as medidas se voltem para as desigualdades estruturais, responsáveis pela maior vulnerabilidade de mulheres racializadas à violência de gênero.
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